"Hoje, mais do que em qualquer outra altura da história, a humanidade depara-se com uma encruzilhada. Um dos caminhos conduz ao sofrimento e ao desespero. O outro, à extinção total. Rezemos pela sabedoria para escolher correctamente o caminho a seguir." Woody Allen

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28.9.03
 
Acabou ontem um dos programas mais emblemáticos da história recente da televisão em Portugal... Não... Enganei-me. Não foi nada disso. Mas o facto é que acabou mesmo um programa. Chama-se (ou chamava-se) "Domingo é Domingo" e pelo título dá para ver que é (ou era) um programa afirmativo, um programa que diz "SIM, ESTAMOS AQUI E QUEREMOS ENTRETÊ-LO, CUSTE O QUE CUSTAR NEM QUE PARA ISSO TENHAMOS DE FAZER FIGURA DE PARVO PORQUE QUEM É IMPORTANTE AQUI É VOCÊ AÍ EM CASA!" E, para além disto, é um exemplo excelente de um tipo de programa que, ao longo dos últimos meses, se foi generalizando até preencher metade da grelha da RTP 1. "Domingo é Domingo," "Portugal no Coração," "Praça da Alegria," "Top +," "Operação Triunfo, " em todos há a mesma alegria incontornável e inexplicável que roça o histerismo. Estão todos tão orgulhosos por ser portugueses, tão confiantes no futuro, tão histéricos que quase parece que o director de programas os chamou todos ao gabinete e lhes disse "pessoal, a partir de agora, temos de estar orgulhosos de ser portugueses, confiantes no futuro e histéricos... São ordens que vêm de cima." Provavelmente, esta onda de euforia pátria tem a ver com os esforços do governo para acabar com a depressão crónica dos portugueses e com o seu descontentamento com o estado do país. Veja-se a iniciativa "PORTUGAL EM ACÇÃO" cujo logotipo vemos um pouco por todo o lado, desde as repartições de finanças às salas de espera dos hospitais. Não se conhecem pormenores a respeito da iniciativa " mas que o logotipo é inspirador, ninguém pode negar. Pessoalmente, basta vê-lo algures que sinto uma vontade a subir por mim acima de me atirar do viaduto mais próximo. Mas fá-lo-ia com um sorriso nos lábios. Aí é que está o cerne da questão. As coisas podem estar mal (eufemismo) mas isso não é motivo para não nos comportarmos como uns tontinhos, pois não?
Voltando ao "Domingo é Domingo," resta acrescentar que se trata do programa com mais apresentadores simultâneos em todo o mundo com direito a registo no livro do Guinness e tudo. A lógica é mais ou menos esta: "Já que há pouco dinheiro, vamos contratar um monte de gente, pagar-lhes uma pipa de massa e pô-los todos no mesmo programa para parecer que há muita coisa para ver e assim é tudo mais económico... se não pensarmos nos salários milionários e... hmmmm..." Ninguém disse que o plano era perfeito, pois não? Os salários justificam parcialmente a euforia dos apresentadores. Mas há outras justificações. A saber: Serenella Andrade ri porque é filha do director de programas e porque deve ser daquelas pessoas que força um sorriso mesmo que lhe estejam a introduzir uma vara de urânio enriquecido pelo ânus acima. Isabel Figueira ri porque fazer aquilo dá muito menos trabalho do que passar modelos. Ricardo Carriço ri porque passa três quartos do programa a interromper e a pôr-se à frente da filha do patrão. E, finalmente, António Macedo ri de alívio por ninguém recordar o momento em que disse "Se o Carlos Cruz é pedófilo, eu também sou."
E depois muda-se de canal e a vida continua.